RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Da Arquibancada e a Lei Geral da Copa




“No caminho é que se vê
A praia melhor pra ficar
Tenho a hora certa pra beber
Uma cerveja antes do almoço
é muito bom pra ficar pensando melhor”
(Nação Zumbi)




São muitos, em nosso Circo, que tomam umazinha... Ou “bebem” para aqueles que preferem ficar atentos aos “duplos sentidos” de algumas palavras. Coisa de Circo Popular.
Este mesmo que aqui escreve tem em casa, sempre, uma boa cachacinha para servir aos visitantes ou para apreciar sozinho.
Sim, também tenho inúmeras histórias de bebim para contar, algumas como público, algumas como coadjuvante, outras como protagonista.
Recentemente, por conta das relações complementares de nosso trabalho junto a um Assentamento Rural (o Assentamento João Batista, em Castanhal, onde desenvolvemos um projeto de formação de jovens para atuarem no campo do lazer – crítico e criativo – em áreas de Reforma Agrária) acompanhamos algumas partidas do time de futebol do Assentamento na Copa Rural. Claro, levava duas latinhas de cerveja.
Ou seja, não seremos hipócritas... Em que pese também construir minhas reflexões de Humanidade, de Mundo e de Sociedade com a atenção devida ao processo de embriaguês (de fato) que a classe trabalhadora é levada para “aceitar” sua condição de explorado (deve ser a tal condição de “consumidor passivo” a qual um Professor Doutor da UFPA se referiu), tomamos nossa cervejinha vez por outra.
E talvez seja exatamente por isso, por não sermos hipócritas, que assistir aos caminhos e descaminhos da Lei Geral da Copa e de seus protagonistas (Governo Federal, FIFA, CBF e os patrocinadores em geral) vem, para nós, estabelecendo alicerces profundos de preocupação.
Aqui, neste pequeno picadeiro e seus populares artistas e público, com a humildade de nosso espaço e a ousadia de nossas bandeiras, entendemos que a aprovação de uma concessão à Lei Federal (Estatuto do Torcedor) que proíbe bebidas alcoólicas nos Estádios de Futebol não nos causa, à bem da verdade, qualquer surpresa. Afinal, atrocidades maiores estão sendo realizadas explicitamente em nome dos Megaeventos Esportivos que se aproximam. Aliás, a Lei Geral da Copa abre caminho para Lei Geral dos Jogos Olímpicos (afinal, Nuzman não é menos Rei do que Ricardo Teixeira). O que a Copa de 2014 não conseguir garantir para 2016, o COI e o COB irão fazer valer. Pobre Povo do Rio de Janeiro.
Mas, de maneira estarrecedora, vinga não apenas a aprovação de uma “concessãozinha etílica” para os tempos de Jogos de Futebol Internacional. E um passeio rápido nos sites de notícias e a manifestação dos nossos Legisladores Federais neste tema mostra, inclusive, a (falta de) qualidade do debate e, mais ainda, a superficialidade da compreensão (e debate, de novo) do alcance que a Lei Geral da Copa tem sobre o país.
Algumas acrobacias:
Primeiro: a Lei Geral da Copa atende a uma demanda privada. Só na questão das bebidas alcoólicas, o que está em jogo são os patrocinadores etílicos e não etílicos da FIFA e da CBF (e suas mega competições oficiais): Budweiser (Rei das Cervejas...?), Coca-cola (um monstro que para se valer de sua presença compra tudo o que vê e que pode ser concorrência – é só conferir a história do Refrigerante Jesus, no Maranhão) e a Nescau, da Mega-imperialista Nestle. É claro que, dessas, apenas a Budweiser fabrica cerveja e, aí, o tamanho do poder desta relação: apenas uma patrocinadora da FIFA foi suficiente para mudar uma Lei de Estado.
Segundo, a Lei Geral da Copa – e essa história da venda de bebida alcoólica nos estádios – reabre um perigoso caminho que, em terras brasilis, sempre se fez presente (principalmente dos tempos Collor de Melo e FHC e, lamentavelmente, nos tempos Lula e Dilma também): O Estado à disposição do Capital. E, no caso da Copa-2014, é inquestionável que a movimentação do esporte, da mídia, da construção civil, do transporte (público?), do turismo etc. são valorizados apenas na perspectiva do evento que, como já disse Eduardo Galeano, “é vento”, passa... Assim, não existe na prioridade de se trazer um evento desta magnitude ao Brasil, o povo brasileiro e sua qualidade de vida.
Terceiro (e na esteira do segundo), antes mesmo da Lei Geral da Copa ser aprovada, já testemunhamos nesta Lona, neste Picadeiro, o que vem acontecendo nas grandes capitais e cidades brasileiras que receberam jogos da Copa do Mundo: despejos forçados (alguns com ordens de despejo para “ontem”), elitização (e supervalorização da especulação imobiliária) econômica de espaços urbanos e remoção forçada e truculenta de comunidades inteiras. Tudo para abrir caminho para o evento ser apreciado por quem, claro, pode pagar tal privilégio.

Um país, um Estado, um Governo que não cuida de seu povo, não preserva e nem luta por sua soberania. E o Esporte Moderno (eu, professor de Educação Física, não deixemos de destacar) que tem suas expressões máximas (em poder) na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos, que ocuparão nosso país em 2014 e 2016 estão provando que perdemos nossa soberania.

Isso tudo por conta de uma cervejinha no Estádio de Futebol...

Chico Science estava certo:

“E eu piso onde quiser/
Você está girando melhor, garota/
Na areia onde o mar chegou/
A ciranda acabou de começar, e ela é!/
E é praieira!!!/
Segura bem forte a mão/
E é praieira !!!/
Vou lembrando a Revolução/
Vou lembrando a Revolução/
Mas há fronteiras nos jardins da razão”

A campanha já havia sido lançada em “da Arquibancada” anteriores: que tenhamos a coragem de NÃO torcer pelo Brasil na Copa do Mundo... Não por este Brasil.

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira
http://www.youtube.com/watch?v=CuNLLuPu8WU

PS.: Coisas interessantes sobre o nosso Futebol: Romário é entrevistado na Revista Caros Amigos (quem não lê a Caros Amigos, precisa ler) e Herrera diz "Não" à Globo e ao Fantástico... e ao vivo!
PS 2: importante, principalmente para aqueles que moram nas cidades-sedes da Copa, conhecer o http://comitepopularcopapoa2014.blogspot.com.br/... aliás, imprescindível!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira