RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sábado, 7 de abril de 2012

Como construir ditaduras...





"Aos povos que não podem ou não querem
confrontar-se com seu passado histórico,
estão fadados a repeti-lo"
(Don Paulo Evaristo Arns)




            1º de abril de 1964.
            48 anos se passaram deste dia que a Casta Militar neste país ainda ensina como “Revolução de 64”. Basta um passeio nas Escolas Militares, sobretudo no material dos conteúdos afetos à História do Brasil. Também testemunhamos, todos os anos, a caserna do Colégio Militar (Rio de Janeiro) sempre comemora como sendo aquela data, a garantia de democracia e a proteção do país ante ao avanço da sombra comunista que ameaçava não apenas o Brasil, mas toda a América Latina.
            Assim, entre as décadas de 60 e 80 no século passado, Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Chile (para ficar em uns poucos países e apenas na América Latina) vivenciaram períodos tenebrosos, em que o simples ato de pensar diferente do Estado implicava em prisões, torturas e mortes. Não bastasse matar pessoas por pensarem diferente (em que pese a história da humanidade ter inúmeros registros deste ato), matar torturando-as e a seus familiares. Não bastasse matar torturando, matar vivos, como foram os casos de argentinos e chilenos dopados, colocados em aviões oficiais do Estado e lançados ao mar... dopados, ainda vivos, para se verem morrendo e sem forças para resistir.
Porém, não foram apenas os generais das Forças Armadas destes países os protagonistas das instalações de ditaduras naquele período. Dentre várias condições, a já conhecida Quarta Frota americana estava a postos. Duvidando da competência dos generais locais em colocar seus países (seus políticos, seus partidos, seus intelectuais, seus artistas, seu povo) no lugar e juízo do “american way of life”, estava pronta a força maior bélica dos EUA (derrotada no Vietnã, nos anos 70) para fazer valer sua determinação imperialista, expressa muito bem pelas palavras do já falecido ex-presidente da República (o aparentemente último ditador militar) João Batista Figueiredo; “se é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”.
É de conhecimento até do reino mineral que o Estado Brasileiro inventou (até os conservadores são criativos) a tal da Lei de Anistia. Era o estado agindo em benefício não mais do Estado, mas de interesses privados, de pessoas em seus postos de governo. E, também, de interesses de variados setores privados, em particular, os meios de comunicação. A grande beneficiada, durante a ditadura, foi a Rede Globo (não apenas), ao ponto de apenas esta ter resistido a crises financeiras diversas enquanto outras redes sucumbiam, a exemplo da TV Tupi  (que apoiou o Golpe, à bem da verdade) e TV Manchete (bem que tentou ser diferente). Uma Lei formulada e aprovada, com essa magnitude, sem uma profunda e verdadeira expressão dos interesses do povo brasileiro.
Ninguém pode ser punido pelo que fez, em que pese a hercúlea maioria dos “anistiados” terem sido os algozes. Às vitimas, o perdão pelo que pensavam, mas apenas aos vivos, já que, mais óbvio do que as próprias palavras do saudoso José Saramago (em Levantado do Chão), “entre mortos e feridos, ficaram estes”.
Mas entre os “não-estes”, existem os seus próximos. Algo interessante (e que o processo de ser, construir-se, aprender-se lutador do povo tem em seu DNA histórico), pois quem luta não luta sozinho. E não se trata apenas de familiares (pais, esposas/as, filhos e demais parentes), mas, também e inquestionavelmente, de seus amigos, companheiros, companheiras.
Um estado que provoca a angústia, a ausência não explicada e/ou mentida de pessoas a seus entes e amigos queridos ou até a suspeita, a partir de relato de outros presos que, talvez por serem menos “perigosos”, ao mesmo tempo que, também, poderiam conduzir o Estado a outros “pensadores perigosos”, eram liberados dos porões da ditadura e descreviam as características de quem lá estava, de quem lá desapareceu, de quem lá foi morto.
Celebramos o 1º de abril, mas não como se esbaldeia a Caserna incrustada no Clube Militar e espaços/pessoas afins, inclusive antecipando o dia do Golpe para 31 de março, para não cair nas graças do “Dia da Mentira” (que, quanto a “Revolução”, é uma mentira). Aliás, antecipação que só mostra o medo, a covardia insana de dizer que algo aconteceu em outra data, para não coincidir com data alheia.
Celebramos porque a memória daqueles lutadores, 48 anos depois, ainda mobiliza nossa sociedade, na justiça e, que bom, nas ruas. Assim o foi (e com o Estado, protetor do privado, sempre presente) nesta semana em cidades como Rio de Janeiro, em que pessoas apanharam da polícia e foram presas, do mesmo jeito que outrora.
Mas, ainda assim, precisamos ficar atentos... Ditaduras se promovem mundo afora (e algumas com discursos – imperialistas – de democracia e liberdade de expressão), em tempos atuais. E nem são promovidas apenas por Estados Nacionais.
Ditaduras são impostas pelos interesses privados, daqueles advindos da Indústria bélica à Indústria mais avançada da tecnologia e cibernética e que também concede benesses aos interlocutores do Estado.
A ditadura se estabelece pela imposição do medo, único artifício dos que não sabem convencer ninguém. O medo é imposto em sala de aula, em eleições (a mídia sempre soube fazer isso bem), mas também com Tropas de Choque e Polícia Militar, quando chegam e batem seus cassetetes em escudos pesados p’ra dizer “saiam daí, senão entramos”.
A ditadura se estabelece pela violência do estado, quando, após o aviso, entram com força, gás e armas (de borracha ou de fogo, ambas são letais) e derrubam quem estiver na frente. Derrubam e mantém no chão, surrando, batendo, torturando (porque as formas como são conduzidas pessoas pela polícia, quase quebrando-lhes os braços, é tortura)
A ditadura se estabelece pela Lei, que o diga A FIFA, CBF, COI e COB... que o digam o Código Florestal, SOPA (Lei contra a Pirataria Online, em inglês) ou as Leis que muitos municípios brasileiros já criaram, impedindo a chegada de “imigrantes” em suas terras.
A Ditadura se estabelece pela ignorância, pelo “inconhecimento”, pelo investimento da falta de história, cultura e memória. Que o diga o sucateamento da TV Cultura em São Paulo.
A Ditadura se estabelece escondendo a verdade (que sempre será revolucionária, por isso a escondem)... o que dizer uma "Comissão da Verdade" (ainda que com apenas sete membros).
A Ditadura se estabelece das formas mais estranhas, inusitadas, instantâneas e Universais que se podem imaginar... Como um 1º de abril.

Vida Longa aos Lutadores e Lutadoras do Povo que, assim como Mariguella, nos ensinam, todos os dias, que não podemos ter tempo para termos medo. Assim era o avô de nossa Lona e nosso Picadeiro, Hiram de Lima Pereira (“Presente!”)

O Universal Circo Crítico homenageia aqueles que tombaram nos anos de chumbo da história recente do país. Como continua a homenagear aqueles e aquelas que, ainda hoje, continuam a tombar.

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira



2 comentários:

  1. Lembrei do mensagem de Dom Pedro Na abertura do Romária dos Mártires, divido então com "Eu peço também para vocês que não se esqueçam do sangue dos mártires. Tem gente, na própria Igreja, que acha que chega de falar de mártires. (dizendo) E ainda uma palavra: há muita amargura, há muita decepção, há muito cansaço... Isso é heresia! Isso é pecado! Nós somos o povo da esperança, o povo da Páscoa. O outro mundo possível somos nós! A outra Igreja possível somos nós! Devemos fazer questão de vivermos todos cutucando, agitando, comprometendo. Como se cada um de nós fosse uma célula-mãe espalhando vida, provocando vida."

    O texto ficou ótimo, provoca...

    ResponderExcluir
  2. Salve, minha querida Suellen.
    Sempre presente em nosso picadeiro, com suas reflexões lutadoras.
    Os mártires são necessários, enquanto ainda tivemos que enfrentar as ditaduras da burguesia, do capitalismo, do "homem-coisa"...
    Que bom que ainda acertamos na maneira de mantermo-nos vivos na luta.
    Vida Longa
    Abreijos
    Há braços!

    ResponderExcluir

O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira